quinta-feira, 14 de abril de 2011

Inflação escancarada


Está ficando cada dia mais claro que a equipe econômica petista trabalhou ao longo dos últimos meses com um diagnóstico errado acerca do comportamento dos preços. Os aumentos estão se disseminando e se tornando cada vez mais persistentes no tempo, ao contrário do que previa Guido Mantega. O pior foi a presidente da República ter embarcado na tese equivocada, ajudando a cevar o crescimento da inflação. A situação já é pior do que imaginávamos.

O governo federal parece estar se dando conta de que caiu no conto do vigário ao fiar-se nos prognósticos sobre inflação feitos pelo ministro da Fazenda. Está ficando cada dia mais claro que Guido Mantega e sua equipe econômica trabalharam ao longo dos últimos meses com um diagnóstico errado acerca do comportamento dos preços no mercado nacional. O pior foi a presidente da República ter embarcado na tese deles.

Dois jornais dão destaque hoje a ações e manifestações oficiais sobre a inflação. Em ambas, o tom é o mesmo: a situação é pior do que imaginávamos. O descontrole é evidente e a incerteza quanto aos instrumentos de controle adotados pelo governo, crescente.

A Folha de S.Paulo informa que o governo petista passou a trabalhar com a possibilidade de que a inflação acumulada em 12 meses ultrapasse o teto da meta já no mês que vem. Já se dava de barato que isso aconteceria em algum momento deste ano, mas até agora o discurso oficial não admitia que isso fosse ocorrer tão cedo.

O Banco Central vem trabalhando com uma inflação de 5,6% neste ano, posição expressa em seu mais recente relatório sobre o tema. Essa projeção deve, porém, ser alterada em junho, diz a Folha. Já o Ipea enxerga ascensão maior nos preços, principalmente por causa da alta dos serviços, que soma 8,5% nos últimos 12 meses.

Só uma parte mais alienada do governo ainda alimenta ilusões quanto à possibilidade de manter a inflação minimamente bem comportada neste ano. Nesta semana, o boletim Focus do Banco Central trouxe, pela primeira vez, a previsão de que o índice oficial de preços fechará o ano acima do limite superior da meta. Instituições cujos prognósticos são mais certeiros – os chamados Top 5 – preveem IPCA de 6,55% em 2011 e de 5,3% em 2012.

O Valor Econômico também trata da inflação na manchete de sua edição de hoje. Mostra que a situação dos preços “assustou” e levou o BC a “abrir diálogo com os ministérios”. “O que mais assustou o BC foi a constatação de que há uma alta disseminada nos alimentos, com vários produtos subindo ao mesmo tempo. O ‘sinal vermelho’ acendeu porque os preços já estão em alta desde 2010 e a expectativa de que recuariam em fevereiro não se confirmou”, informa o jornal. Um grupo de especialistas foi montado pelo BC para monitorar de perto a variação dos preços das commodities e dos alimentos básicos.

Bom, vale relembrar que quem disseminou a expectativa de que os preços “recuariam em fevereiro” foi ninguém menos que o ministro da Fazenda. O equívoco teria sido menos grave se a própria presidente da República não tivesse comprado a tese, conforme manifestou na entrevista que deu ao Valor em 17 de março. Vejamos o que disse Dilma Rousseff.

“Nós não achamos que ela (a inflação) é de demanda. Achamos que há alguns desequilíbrios em alguns setores, mas é inequívoco que houve nos últimos tempos um crescimento dos preços dos alimentos, que já reduziu. Teve aumento do preço do material escolar, dos transportes urbanos, que são sazonais (passageiros, temporários).”

Não é preciso ir longe para desmentir o diagnóstico impreciso abraçado por Dilma. Por exemplo, o mais recente índice de preços divulgado pela FGV, o IPC-S, comprovou que nada menos que 68,33% dos bens e serviços pesquisados ficaram mais caros nos últimos 30 dias. A alta é, pois, disseminada, além de persistente.

Quem tem de ir ao mercadinho da esquina ou à feira já percebeu há tempos que os preços estão em escalada. O dinheiro do salário compra hoje menos do que comprava há um mês. Como uma praga, a expectativa de alta da inflação vai se espraiando e se auto-alimentando: quando o ambiente fica assim, o dia de amanhã é sempre pior que o de hoje.

Até agora, baseados nesta visão míope do problema, BC e Fazenda veem optando por combater a inflação com medidas de contenção de crédito e encarecimento dos financiamentos. Nada indica que a profilaxia esteja funcionando.

Diante disso, ninguém mais duvida que venha nova alta dos juros na reunião que o Copom realiza na semana que vem. Ou seja, Dilma Rousseff ainda não conseguiu começar a atacar um problema ao qual se propôs – o de reduzir nossa taxa de juros campeã mundial – mas está conseguindo cevar outro, que o esforço de anos da sociedade brasileira conseguira debelar: o retorno da inflação.

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