terça-feira, 31 de maio de 2011

Taxa de influência


Duas informações divulgadas no fim de semana dão à “consultoria” dada por Antonio Palocci seus contornos definitivos: a Projeto faturou como nunca entre a eleição e a posse de Dilma Rousseff, em pagamento por cláusulas de sucesso firmadas com os clientes. Pelo que se sabe até agora, a principal mercadoria que a empresa do ministro tinha na prateleira para oferecer chama-se tráfico de influência. No mundo dos negócios, isso vale milhões.

Antonio Palocci começa a semana tendo muito mais a explicar do que o governo gostaria. Duas novas informações divulgadas no fim de semana dão à “consultoria” dada pelo ministro seus contornos definitivos. Por tudo o que se sabe até agora, a principal mercadoria que a Projeto tinha na prateleira para vender aos clientes chama-se tráfico de influência.
A empresa de Palocci nunca faturou tanto – pelo menos pelo que se sabe até agora – quanto no período entre a eleição e a posse de Dilma Rousseff, cuja vitoriosa campanha foi coordenada pelo dono da consultoria. Entre novembro e dezembro, entraram no seu caixa R$ 10 milhões, revelou a Folha de S.Paulo em sua edição de sábado.
Pelo que se sabe até agora, a bolada representa metade do que a Projeto faturou em todo o ano passado. A justificativa apresentada pela empresa é que seus clientes se anteciparam ao encerramento das atividades da consultoria e ofereceram-se para recompensá-la pelo “sucesso” obtido a partir dos conselhos adquiridos.
Palocci operava sua consultoria com base na obtenção de resultados palpáveis, numa taxa de sucesso, conforme admitiu a Projeto a O Globo no sábado: “A empresa negociou o encerramento de todos os seus contratos, inclusive daqueles com cláusulas de sucesso. Esta negociação com os clientes implicou quitação antecipada pelos serviços prestados. Como a situação obrigava a interrupção dos contratos, a empresa aceitou as propostas dos clientes quanto a estes pagamentos”.
Da conjunção destas duas informações, resulta que Palocci tem muito mais a esclarecer do que se supunha até a semana passada. Ele mais faturou quando a eleição da qual foi um dos principais artífices estava decidida, a seu favor. Mais ganhou quando já se sabia que ele seria o homem forte do novo governo. Mais embolsou quando menos teria trabalhado. Em troca de quê?
Parece evidente que a “experiência única” – conforme a nota que a assessoria do ministro divulgou e depois renegou na semana passada – que teria levado a Projeto a faturar como as gigantes da consultoria financeira do país é menos a pregressa do que a futura. Ao que tudo indica, os clientes da empresa do ministro pagavam para abrir as portas da esperança do novo governo.
“Qual será o valor de mercado de quem tem a oferecer, além da ‘experiência única’, a credencial de ter permanecido como protagonista de primeira grandeza na esfera das decisões do governo? Palocci sabia não apenas como funciona o poder, mas que rumos o poder tencionava tomar em matérias de interesse direto do empresariado e do sistema financeiro”, comentou O Estado de S.Paulo em editorial no sábado.
Também em outro aspecto o caso da Projeto é original no mundo dos negócios. Pagou-se mais justamente quando o serviço deixou de ser prestado e, pelo que informou a empresa no sábado, por sugestão dos próprios pagadores – uma vez que a Projeto teria “aceitado” receber seus milhões, presumivelmente de bom grado. É tudo o que normalmente não se vê no mercado.
A consultoria mais arrecadou quando seu proprietário ainda não era ministro-chefe da Casa Civil de direito, mas já o era de fato. Em 24 de novembro do ano passado, todos os principais jornais do país divulgaram que Palocci assumiria a pasta a partir de 1º de janeiro. É possível que, nestes 37 dias até a posse, nunca os cofres da Projeto tenham visto tanto dinheiro...
A base governista sabe que há muito a esclarecer e faz de tudo para impedir a elucidação do caso. Diz o Estadão hoje que a prioridade dos aliados no Congresso é “barrar a tentativa de convocação de Palocci para depor no Senado e impedir que a oposição avance na coleta de assinaturas para a abertura de uma CPI sobre o caso”. Já O Globo informa que o “Planalto usará cargos para blindar Palocci”. Se o governo tem tanta convicção da lisura das atividades privadas do ministro, por que resiste tanto em permitir que ele se explique?
Antonio Palocci aferra-se a uma das cláusulas dos contratos firmados com seus contratantes para não prestar os esclarecimentos que a sociedade cobra. Diz que obedece à exigência de confidencialidade firmada entre as partes. O ministro demonstra ter mais apreço pelo homens do dinheiro do que pelos princípios éticos e morais da República.
A despeito disso, o que resta explícito é que o principal item da relação entre a Projeto e seus clientes não era a confidencialidade. O que contava mesmo era a possibilidade de os demandantes serem bem-sucedidos em ver seus interesses influenciarem as decisões do governo. As cláusulas de sucesso escamoteavam a taxa de influência exercida pelo ministro. No mundo dos negócios, isso vale milhões.

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